É
incontestável, uma vez que se embasam cientificamente, os fenômenos de melhoria
da qualidade de vida, de aumento de bem-estar, da auto estima, e dos níveis de
saúde quando se é ou está feliz!
Em
suma, ser feliz, alegre, rir de tudo, dos problemas, minimizá-los, é ser
saudável!
Contudo,
proponho os seguintes questionamentos:
Sob
qual base moral, ética, social e solidária, estamos ou estaremos agindo, com o
pretexto ou objetivo de se manter ou buscar a tão sonhada felicidade, melhor
ainda tendo como consequência a melhoria da saúde?
Qual
o tipo ou modalidade de felicidade que estamos reportando ou ensejando por meio
de nossas ações, muitas vezes individuais, alicerçadas em valores pessoais,
egocêntricos e limitados, compartilhadas com algumas poucas pessoas que nos são
próximas, e se assim o são, talvez o sejam mais pelo interesse, também próprio
e egocêntrico, que por ventura também possuam?
Antes
que me perca em filosofias subjetivas e seja traído pela tentação da abstração,
procurarei ser mais claro para que não confunda a mim e tão pouco aos leitores.
Observo
diuturnamente nas redes sociais a instauração de um processo contínuo de
desapropriação e depreciação dos valores básicos sociais, referentes à ética, a
moral, a solidariedade, a caridade e o amor.
Pessoas
que não apenas ignoram a gravidade de situações que nos afligem cotidianamente,
tais como o maltrato a animais, a seres humanos, em situação de miséria e
vulnerabilidade, ignorância cultural e intelectual, e vitimas de catástrofes,
como também debocham das referidas situações, como se estivessem acima e à
margem dos problemas sociais.
Não
os convido a uma análise ingênua a respeito de posturas insensíveis e
carregadas de preconceito, depreciativa dos valores que deveriam embasar nossa
existência. Estas posturas nada apresentam de contemporâneo, existindo desde
sempre, desde que o ser humano colocou sua vaidade acima de tudo. Desde que a
sociedade passou a dar mais valor ao “TER” do que ao “SER”.
Entretanto,
o que mais me causa assombro e preocupação, é que estas posturas apresentadas
em épocas mais distantes eram bem evidentes, pois tinham o endosso
político-social da época, em período de rigidez política, machismo e poder da
igreja – para citar alguns exemplos.
Com
o passar das décadas, os preconceitos, discriminações e falta de solidariedade
passaram a diluir-se e camuflar-se em nuances sociológicas, que se não serviram
a contento para extinguir as referidas práticas, exprimiram de certa forma uma
pequena evolução rumo a uma sociedade mais ética, justa, caridosa e
humanitária.
Infelizmente,
nos dias atuais, percebemos uma tendência para uma inversão deste processo de
humanização, uma vez que é flagrante e frequente, sobretudo em redes sociais, o
deboche, o humor, o sarcasmo e o descaso, tendo como foco situações cotidianas
sociais que nos deveriam causar indignação, revolta, preocupação e compaixão.
Tomo
o caso, o mais recente, a catástrofe provocada pelo Furacão Sandy como exemplo.
Pessoas estão perdendo suas vidas! Crianças estão ficando sem pais, e pais
estão ficando sem seus filhos! Produtos de uma vida inteira de lutas e
conquistas foram arrasados em minutos. Contabilizam-se perdas de casas, carros,
escolas, hospitais, entre outros.
Pessoas
terão que sobreviver ainda por muito tempo sem o mínimo de estrutura básica
necessária – água, luz, saneamento, moradia, educação, transporte, saúde,
segurança. E mesmo quando todos estes problemas estiverem sanados, ainda sim
estarão chorando suas perdas, sobretudo daqueles que lhes eram queridos e
amados.
Em
um cenário tão dramático, exposto em tempo real pela rede mundial de
computadores e telejornais, encontramos em abundância pessoas satirizando a
situação, “minimizando o problema”, sob a égide da ciência e da filosofia mal
compreendida, e pior aplicada, que diz que não devemos nos abater frente às
questões negativas, e se possível levar tudo na esportiva, com o sorriso nos
lábios.
Sem
dúvida não devemos permitir que os problemas nos abatam a ponto de nos chocar e
paralisar. Contudo, devemos ter sensibilidade suficiente para percebermos a
gravidade dos fatos, para nos compadecermos e nos solidarizarmos com as
vitimas, para que possamos transformar nossa alegria em energia e ações
efetivas de fraternidade e apoio.
Feito
isso, aí sim poderemos estar a manifestar nossa plena felicidade com relação ao
fato, que por mais catastrófico que possa ter sido, trazendo a tristeza das
perdas de quem amamos e daquilo que temos, também terá sido capaz de gerar os
mais puros, sinceros e belos sentimentos e atos de amor, caridade,
solidariedade e presteza. Sentimentos esses que deveriam vigorar sempre nas
postagens de nossas redes sócias.
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