sexta-feira, 2 de novembro de 2012

RESPEITO E COMPROMETIMENTO COM O CIDADÃO - o melhor legado que se pode deixar!

Confesso que o tema revela-se por demais complexo e delicado. Sobretudo para mim, profissional da área da Educação Física, naturalmente identificado com o esporte. Contudo, com a publicação de um livro que discute a questão referente ao sonho de jovens carentes em se tornarem jogadores profissionais de futebol, e a criação - dentro do contexto do livro - de um contraponto com a desvalorização educacional, a criminalidade, a falta de investimentos financeiros e em ações efetivas em áreas como saúde, segurança, entre outras, em nosso País, não poderei furtar-me à expressar minhas reflexões com relação a realização de "Mega Eventos Esportivos", tais como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016!

É inquestionável e inevitável que eventos deste porte, com tamanho potencial de marketing, de abrangência à nível mundial, acabem por gerar um grande influxo de dinheiro na economia de nosso País, quer seja pela atração de investidores e investimentos, ou mesmo pelo impulso movimentador da economia em diversos setores – hoteleiro, gastronômico, comercial, turístico, de transporte, entretenimento, entre tantos outros, inclusive o próprio comércio informal.
Dinheiro líquido e certo! Quem não se anima com tal potencial?
Toda esta atmosfera tem o poder imediato e estimulante de proporcionar à todos os envolvidos neste contexto, inclusive a própria sociedade, uma postura de condescendência para com ações emergenciais - na realidade estratégicas em sua origem política - de contratações de serviços, de pessoal e empresas, sob custos altíssimos, para a realização das obras de infraestrutura, treinamento, etc, tendo como justificativa um aparato legal - melhor apreciado como brecha - o caráter diferenciado e emergencial para a realização das referidas ações, devido ao tempo limite de tempo para a execução, o que abre a possibilidade de se contratar sem a necessidade da observância de questões que deveriam assegurar um processo democrático e justo de licitações. Temos aqui uma porta escancarada para o desvio de verbas e enriquecimento de poucos envolvidos em detrimento de um País caracterizado por desigualdades sociais.
Da mesma forma, procura-se defender e justificar a realização destes eventos, tendo como base o legado que se é herdado após suas realizações. Aparelhos esportivos e tecnológicos de última geração, melhorias em estruturas de transporte viário e aéreo, estruturas arquitetônicas operacionais e residenciais, que dentro de um "imaginário idealista", estariam prontamente a disposição da sociedade, tão logo o encerramento destes eventos se desse, para pronta apropriação e consumo.
Pessoalmente não posso afirmar que confio na competência e no comprometimento dos governantes brasileiros em manter e administrar de maneira eficiente este legado. Como confiar em tamanho comprometimento e eficiência, se estas posturas, tão fundamentais para o exercício da democracia e justiça, tão pouco são adotadas nos processos de preparação destes eventos?
Porém, não exponho aqui apenas minha opinião. Sugiro a leitura de uma pequena reportagem (representativa de outras tantas notícias que se pode ter contado após breves pesquisas) que encontra-se no link: http://globoesporte.globo.com/olimpiadas/noticia/2012/11/prefeitura-desiste-de-reforma-e-confirma-demolicao-do-velodromo.html, e que representa muito bem não só o risco de se empunhar a bandeira de que no Brasil "apesar de tudo ficar para a última hora, acaba acontecendo" (postura enraizada e "aceita" em nossa cultura local, porém um motivo de constrangimento nacional ao tentar impô-la como natural ao mundo), como também o descaso do poder público com os gastos realizados em estruturas inadequadas para a prática do esporte, a ponto de ter que se inutilizá-las após cinco anos passados de sua data de construção. Refiro-me como exemplo ao Velódromo construído na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2007 devido a realização dos Jogos Panamericanos, realizados naquela cidade no referido ano. Foram gastos (na época) em torno de R$ 14 milhões em uma estrutura que atualmente foi recusada pela organização dos Jogos Olímpicos de 2016, por possuir uma séria de problemas conceituais em seu projeto, o que torna inviável sua utilização.
Demoli-se o "antigo", constrói-se um novo, sob a justificativa de cumprir com os padrões exigidos, por um valor maior estimado em dez vezes - R$ 140 milhões. 
Contudo, o que mais me impulsiona a reflexão é a seguinte equação: em um País de tantas desigualdades sociais, com tanta falta de investimento em setores fundamentais e básicos para a garantia de uma vida digna (educação, saúde, transporte, segurança, onde pessoas vivem em condições sub-humanas, ainda morre-se de fome, ainda sofrem com a falta de água, ainda vive-se nas ruas à margem da sociedade - NENHUM LEGADO DE UM EVENTO ESPORTIVO, POR MELHOR QUE SEJA, SERÁ MAIS IMPORTANTE DO QUE CUIDAR DE SEUS CIDADÃOS COM RESPEITO E COMPROMETIMENTO!



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