Historicamente
a escola vem servindo como instrumento e meio de repercussão e legitimação
política e econômica em nosso País. Neste contexto, o desenvolvimento e
evolução da Educação no Brasil apresentam uma cronologia caracterizada pela
elitização de suas instituições e do ensino em seus anos primais, passando por
um período de abertura dos “muros escolares” à população em geral, e culminando
atualmente com um processo de democratização educacional que não só promove o
acesso de todos à educação, independentemente de classe social, raça, credo,
etc., como ainda, garante por lei, o referido acesso, a permanência e a
evolução nos anos escolares.
Quando
a escola permite-se democraticamente receber a sociedade, ela passa a atrair e
conviver com todas as nuances, conflitos, desafios e aspectos que caracterizam
e definem esta sociedade.
Se
atualmente a escola assume, mesmo que ineficazmente, um papel educacional
global, que a leva ao tratamento não só das questões pedagógicas que se lhe
apresentam, mas também, ao trabalho obrigatório dos aspectos psicológicos,
sociais, de segurança e desestruturação familiar, é por que em última análise,
o processo de democratização escolar se relaciona, influencia e é influenciado
pela imensa variedade de fatores que definem uma sociedade. Ao mesmo tempo, é
clara e efetiva a intenção governamental em transformar a educação e a escola
em legítimos “salvadores da pátria”, para que se tenha assim, uma excelente
plataforma política.
A
Educação Física escolar, assim como a própria instituição escola, historicamente
acompanha e representa os aspectos políticos e econômicos vigentes. Com o
passar das décadas, ela já assumiu diversas vertentes – eugenia de raça,
higienista, militarista e tecnicista – esta última, caracterizada pela
esportivização escolar, se deu no período de transição entre os modelos
políticos militar e democrático, o que contribuiu para a sua expansão, não
obstante seu caráter seletivo e excludente.
Atualmente,
como produto de um processo contínuo de evolução e reflexão, a educação física
trabalha com uma proposta diferenciada, atentando aos conteúdos voltados ao
jogo, ginásticas, danças e atividades físicas, lutas, corpo e movimento,
incluindo o próprio esporte. Contudo, o caráter competitivo deixa de prevalecer
no esporte escolar (dentro da grade de educação física), o mesmo acontecendo
com sua exclusividade.
Entretanto,
o anseio e identificação com o esporte escolar, como ferramenta fundamental
para a conquista de uma carreira vitoriosa e de sucesso, de forma a proporcionar
uma ascensão social (população carente), se faz presente de forma intensa e
constante no imaginário de jovens, e também nos discursos de políticos,
empresários e da população em geral, haja vista o apelo e a referência que se
faz à escola, quando o assunto é investir em esporte e em crianças, a fim de se
promover a formação de atletas, sobretudo em épocas de olimpíadas e copa do
mundo.
O
professor de educação física convive diariamente com estas questões e com os
anseios de jovens que sonham em se tornar atletas (sobretudo de futebol) como
forma de melhorarem as condições em que vivem, principalmente fazendo o que mais
gostam.
Esses
sonhos são estimulados por uma mídia que se ocupa em divulgar apenas
informações positivas a respeito do esporte – contratos milionários,
patrocinadores, belos carros, casas, mulheres, times do exterior - que acabam
por gerar uma falsa percepção da realidade esportiva nacional.
Apenas
uma pequena porcentagem dos que intentam se tornar jogadores de futebol obtém
êxito, e mesmo quando o objetivo é alcançado, uma minoria destes recebem
salários milionários. A grande maioria dos jogadores profissionais recebem
salários modestos, muito abaixo do imaginado, tendo em muitos casos que arcar
com os custos de condução, alimentação e equipamento esportivo.
Porém,
na escola, onde este objetivo ainda é um sonho, os jovens desconhecem ou
desconsideram todos os aspectos envolvidos no processo para a formação de um
atleta profissional, tais como a necessidade de agentes, oportunidades,
“peneiras seletivas”, entre outros. Percebemos que o enorme desejo em se tornar
jogador de futebol não se converte em ações e estratégias efetivas para a
conquista do objetivo almejado. Tão pouco a escola, e a educação física
escolar, estão estruturados de forma a promover tal empreitada.
Com
isso e com o passar dos anos, sem que atitudes efetivas tenham sido tomadas, e
sem que se tenham atentado paralelamente a um “Plano B” – estudo – jovens de
dezesseis, dezessete e dezoito anos descobrem-se velhos para o futebol e nesse
instante a escola deixa de ter um significado para eles.
Sem
formação educacional e objetivos, porém ainda com o desejo de ascender
socialmente, estes jovens acabam sucumbindo ao chamado do crime, presente no
cotidiano de vida de populações carentes, que o acolhe e o serve prontamente,
com os benefícios que outrora eram expectativamente vinculados a carreira futebolística.
Qual
a responsabilidade da “Instituição Futebol” – em todos os seus segmentos e
setores – neste contexto? A escola e a educação física devem arcar com a
responsabilidade de formação de futuros atletas profissionais? Qual a
significação escolar atual para a sociedade? Como criar novos significados da
escola para atender aos anseios de seu público, a fim de resgatar o respeito e
a valorização educacional e diminuir o abandono escolar?
Estas
são questões que requerem reflexões e respostas urgentes sob a pena de que ao
ignorá-las, estejamos acentuando os problemas e conflitos sociais e
educacionais dos quais somos vitimas, porém, também responsáveis.
Alessandro
Morelli.
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