quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Diálogo

Aquele que inicia o diálogo, momentos antes sendo aluno, interpela o outro que em instantes prévios estava professor: 

- "Foi você quem fez o livro?"

Pergunta feita assim, direta, dita, despida! Aliás, despidos estavam ambos, anteriormente aluno e professor, que por agora eram iguais, senão em sua totalidade, ao menos em posições, respeito e prosa.

Responde o outro: 

- "Sim, fui eu quem o escreveu"! 

O mais atento captaria o quase imperceptível traço de orgulho na face do professor.

Mesma expressão insiste naquele - antes aluno, porém agora apenas companheiro de conversa - e por mais uma vez se põe a interrogar: 

- "E é bom o livro?"

Um misto de incredulidade e humor toma o outro.

- "Acredito que sim".

Franze o cenho o professor! Cenho de professor, que não deveria ali se apresentar, afinal não estava por hora a ser ele o professor, assim como o aluno, naquele momento não o era também.

E este, que por hora aluno não era, apenas o lado contrário, pois contrário estava no diálogo, como que não acreditando, ou como se ainda dúvida tivesse, requer maior informação que possa assegurar a qualidade da produção:

- "Já vendeu muitos livros?"

Pergunta feita desta vez com expressão mudada, como que para demonstrar a sabedoria de sua matemática linear, exata e conclusiva, afinal crê que a qualidade de uma produção é medida pela quantidade de exemplares vendidos! E assim não o é? Pensa o aluno. Tem dúvidas - convenientemente - o professor!

- "Alguns poucos exemplares!"

Sem identificar-se se por afinidade ou piedade, ou até por uma dose de sarcasmo, arremata o inquisidor, sorriso discreto a cantear a boca:

- "Alguns poucos já é um bom começo".

Em xeque, lembra-se o inquerido que pela igualdade de posições, postas ao lado carapaças de professor e aluno, és livre para contra-golpear, pois se iguais estão, à ambos lhe são lícitas e ilícitas todas as coisas nas mesmas medidas.

- "Por acaso já comprou e leu o livro?"

Desaparece o meio sorriso, e o aluno que não o é agora põe-se à reflexão. E antes mesmo que o outro complemente, já ele completa:

- "Alguns poucos leitores não conseguem definir a qualidade de um livro!".

Satisfaz-se ele, satisfaz-se bem mais o outro, toca o sinal de troca de aula, vestem-se as carapaças, um a de professor, outro a de aluno. De um lado se vai a pensar o aluno:

"Devo comprar o livro e tirar minhas próprias conclusões".

De outro, o professor caminha lentamente com a certeza de que deverá vender mais livros.



Nenhum comentário:

Postar um comentário