sábado, 27 de abril de 2013

UMA REFLEXÃO SOBRE O MOVIMENTO GREVISTA!

Inicio este texto deixando bem claro minha posição: há de se respeitar toda e qualquer postura, pensamento e ação que o indivíduo tome, uma vez que a livre expressão é garantida pela lei dos homens, e o livre arbítrio é um dos alicerces sustentatórios das ações e relações humanas, permitido por Deus.
 
Após quase quatorze anos de exercício docente na Rede Estadual de Ensino de São Paulo, e da participação em algumas greves durante este período, me deparo novamente, em 2013, com o movimento reivindicatório, e com ele uma série de ações, discursos e posturas que a mim, parecem a repetição perpétua de estratégias pouco eficazes, já que nada ou pouco obtiveram de conquista efetiva em momentos anteriores.
 
Neste contexto, valho-me de valoroso provérbio chinês o qual reflete meu efetivo pensamento atual: "Insanidade é fazer sempre as mesmas coisas e esperar resultados diferentes."
 
Não me sinto impelido a aderir à um movimento arcaico, pouco produtivo, pouco inteligente, que considera como função primordial e efetiva do docente o aumento do "score" da paralisação/greve. Menos honesta ainda, é a utilização dos professores como massa de manobra por facções partidárias que há muito tempo se instalaram em nossos órgãos de representação de classe.
 
Já estive em greve marchando pelas ruas da maior capital de nosso País, sendo agredido por Policiais a mando de um sistema governamental que tem efetivo interesse em fomentar a ignorância social por meio do sucateamento da Educação Pública. Porém, também já estive debaixo de chuva, nas mesmas ruas, a presenciar disputas partidárias entre membros de nosso Sindicato, em cima do carro de som, enquanto nós, os professores convocados à se unirem em prol das reivindicações de nossa classe, aguardávamos impacientemente um norte operacional, uma verdadeira pauta reivindicatória à ser executada, sentindo-nos cada vez mais usados.
 
A organização de um movimento grevista passa obrigatoriamente, pela aproximação dos representantes de seus representados, como forma de identificar os verdadeiros anseios das bases, afim de se elaborar as ações e estratégias reivindicatórias efetivas, que serão produzidas após amplo debate, tendo como principal e "sagrado" comprometimento, a representação dos interesses da maioria e não, a utilização do mecanismo de representação para auferir resultados políticos para partidos inseridos em nossas instituições sindicais.
 
Contudo este, para mim, não se revela o maior problema deste movimento pouco criativo e efetivo. Não é segredo para ninguém que a cada greve somos "jogados" pela mídia (interessada em compactuar com o governo) contra a sociedade, por meio de matérias que subestimam o número de professores paralisados, e enfatizam o transtorno que causamos ao interferir no trânsito de São Paulo, e ao enviar os alunos de volta para casa, obrigando os pais à interferirem em suas rotinas para "cuidar" de seus filhos.
 
Se um dos nossos maiores problemas sistêmicos educacionais atuais revela-se como a falta de valorização da Educação pela própria sociedade que enxerga a escola cada vez mais como um espaço de entretenimento e tutela dos filhos, e cada vez menos como instituição formadora de cidadãos, como esperar a compreensão e até mesmo o apoio desta mesma sociedade, em nossas reivindicações?
 
Muito desta desvalorização tem a ver com a reestruturação da instituição familiar, que nos dias de hoje necessita do labor de ambos os pais para a geração de uma renda precária, o que os tira do lar, e os impossibilita a permanência e o cuidado maior de seus filhos.
 
Neste contexto, e sabiamente, o governo lança sua plataforma de ação política investindo maciçamente em marketing e ações que aos olhos da sociedade são responsáveis por criar uma escola perfeita uma vez que atualmente os estudantes são contemplados de forma gratuita com todos os materiais escolares, apostilas, livros, mochila, merenda, e uma lei que não só obriga o acesso e permanência dos alunos na escola, mas que também remunera as famílias mais carentes por meio de programas de incentivo governamental.
 
Não parece claro à todos as desvantagens que enfrentamos neste embate? Será que os professores envolvidos no movimento grevista (que são muito bem intencionados e estão em seu direito) não se dão conta que lutamos contra um gigante que especializou-se em iludir a população por meio da venda de uma imagem protetora e assistencialista?
 
Será que acreditamos verdadeiramente que a população irá se opor, gratuitamente, à este governo "que tanto faz" por eles? NUNCA!
 
Enquanto não mudarmos nossa forma de ação, enquanto não rompermos com o domínio da política interesseira partidária que impregna nossa classe, e enquanto não nos aproximarmos verdadeiramente de nossa sociedade, de nossos alunos, pais e comunidade, jamais seremos vitoriosos.
 
Para isso contamos com a maior de todas as armas que um ser humano pode dispor: o CONHECIMENTO! O conhecimento que liberta, conscientiza, sensibiliza, agrega e fortalece. Temos que de uma vez por todas assumir nosso papel de formadores de cidadãos críticos, reflexivos, e prontos a agir conscientemente na busca por uma sociedade mais justa.
 
Mas não é mandando nossos alunos para casa e servindo de número para o movimento realizado por um Sindicato vendido que isso irá ocorrer. Devemos ser mais realistas e humildes. Devemos estabelecer estratégias localizadas, em cada unidade de ensino, por meio de palestras e conversas com os alunos, pais e comunidade em geral, afim de esclarecê-los quanto às reivindicações que são feitas, conscientizá-los que lutamos não por pequenas melhorias pontuais para nós, mas sim por mudanças fundamentais da política educacional para que nossas escolas públicas deixem de ser centros de entretenimento e tutela de crianças e jovens e passem efetivamente a atuar como instituições responsáveis pela formação de nossos cidadãos.
 
Devemos abandonar de uma vez por todas esta postura ingênua e infantil de ação controlada e manipulada por interesses políticos sindicais, que não são nenhum pouco simpáticos à nossa sociedade. Devemos sim nos concentrarmos em esforços de conscientização e parceira com a sociedade, só assim estaremos fortalecidos.
 
Contudo, para isso, devemos superar um primeiro e provavelmente nosso maior obstáculo: a falta de unidade e corporatividade profissional que caracteriza nossa classe.
 


Um comentário:

  1. É isso ai...disse tudo, Professor, faço das minhas as suas palavras, e acrescento mais...eu que também já participei de movimentos assim, anos atrás, repito, nunca vi uma classe tão desunida, infelizmente, no entanto penso que o tempo deve ser o nosso aliado, e concordo plenamente, juntos somos sempre mais fortes, principalmente quando unidos em Conhecimento...Belo, e oportuno texto...Paarabéns!

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