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este texto deixando bem claro minha posição: há de se respeitar toda e qualquer
postura, pensamento e ação que o indivíduo tome, uma vez que a livre expressão
é garantida pela lei dos homens, e o livre arbítrio é um dos alicerces
sustentatórios das ações e relações humanas, permitido por Deus.
Após
quase quatorze anos de exercício docente na Rede Estadual de Ensino de São
Paulo, e da participação em algumas greves durante este período, me deparo
novamente, em 2013, com o movimento reivindicatório, e com ele uma série de
ações, discursos e posturas que a mim, parecem a repetição perpétua de
estratégias pouco eficazes, já que nada ou pouco obtiveram de conquista efetiva
em momentos anteriores.
Neste
contexto, valho-me de valoroso provérbio chinês o qual reflete meu efetivo
pensamento atual: "Insanidade é fazer sempre as mesmas coisas e esperar
resultados diferentes."
Não
me sinto impelido a aderir à um movimento arcaico, pouco produtivo, pouco
inteligente, que considera como função primordial e efetiva do docente o
aumento do "score" da paralisação/greve. Menos honesta ainda, é a
utilização dos professores como massa de manobra por facções partidárias que há
muito tempo se instalaram em nossos órgãos de representação de classe.
Já
estive em greve marchando pelas ruas da maior capital de nosso País, sendo
agredido por Policiais a mando de um sistema governamental que tem efetivo
interesse em fomentar a ignorância social por meio do sucateamento da Educação
Pública. Porém, também já estive debaixo de chuva, nas mesmas ruas, a
presenciar disputas partidárias entre membros de nosso Sindicato, em cima do
carro de som, enquanto nós, os professores convocados à se unirem em prol das
reivindicações de nossa classe, aguardávamos impacientemente um norte
operacional, uma verdadeira pauta reivindicatória à ser executada, sentindo-nos
cada vez mais usados.
A
organização de um movimento grevista passa obrigatoriamente, pela aproximação
dos representantes de seus representados, como forma de identificar os
verdadeiros anseios das bases, afim de se elaborar as ações e estratégias
reivindicatórias efetivas, que serão produzidas após amplo debate, tendo como
principal e "sagrado" comprometimento, a representação dos interesses
da maioria e não, a utilização do mecanismo de representação para auferir
resultados políticos para partidos inseridos em nossas instituições sindicais.
Contudo
este, para mim, não se revela o maior problema deste movimento pouco criativo e
efetivo. Não é segredo para ninguém que a cada greve somos "jogados"
pela mídia (interessada em compactuar com o governo) contra a sociedade, por
meio de matérias que subestimam o número de professores paralisados, e
enfatizam o transtorno que causamos ao interferir no trânsito de São Paulo, e
ao enviar os alunos de volta para casa, obrigando os pais à interferirem em
suas rotinas para "cuidar" de seus filhos.
Se
um dos nossos maiores problemas sistêmicos educacionais atuais revela-se como a
falta de valorização da Educação pela própria sociedade que enxerga a escola
cada vez mais como um espaço de entretenimento e tutela dos filhos, e cada vez
menos como instituição formadora de cidadãos, como esperar a compreensão e até
mesmo o apoio desta mesma sociedade, em nossas reivindicações?
Muito
desta desvalorização tem a ver com a reestruturação da instituição familiar,
que nos dias de hoje necessita do labor de ambos os pais para a geração de uma
renda precária, o que os tira do lar, e os impossibilita a permanência e o
cuidado maior de seus filhos.
Neste
contexto, e sabiamente, o governo lança sua plataforma de ação política
investindo maciçamente em marketing e ações que aos olhos da sociedade são
responsáveis por criar uma escola perfeita uma vez que atualmente os estudantes
são contemplados de forma gratuita com todos os materiais escolares, apostilas,
livros, mochila, merenda, e uma lei que não só obriga o acesso e permanência
dos alunos na escola, mas que também remunera as famílias mais carentes por
meio de programas de incentivo governamental.
Não
parece claro à todos as desvantagens que enfrentamos neste embate? Será que os
professores envolvidos no movimento grevista (que são muito bem intencionados e
estão em seu direito) não se dão conta que lutamos contra um gigante que
especializou-se em iludir a população por meio da venda de uma imagem protetora
e assistencialista?
Será
que acreditamos verdadeiramente que a população irá se opor, gratuitamente, à
este governo "que tanto faz" por eles? NUNCA!
Enquanto
não mudarmos nossa forma de ação, enquanto não rompermos com o domínio da política
interesseira partidária que impregna nossa classe, e enquanto não nos
aproximarmos verdadeiramente de nossa sociedade, de nossos alunos, pais e
comunidade, jamais seremos vitoriosos.
Para
isso contamos com a maior de todas as armas que um ser humano pode dispor: o
CONHECIMENTO! O conhecimento que liberta, conscientiza, sensibiliza, agrega e
fortalece. Temos que de uma vez por todas assumir nosso papel de formadores de
cidadãos críticos, reflexivos, e prontos a agir conscientemente na busca por uma
sociedade mais justa.
Mas
não é mandando nossos alunos para casa e servindo de número para o movimento
realizado por um Sindicato vendido que isso irá ocorrer. Devemos ser mais
realistas e humildes. Devemos estabelecer estratégias localizadas, em cada unidade
de ensino, por meio de palestras e conversas com os alunos, pais e comunidade
em geral, afim de esclarecê-los quanto às reivindicações que são feitas,
conscientizá-los que lutamos não por pequenas melhorias pontuais para nós, mas
sim por mudanças fundamentais da política educacional para que nossas escolas
públicas deixem de ser centros de entretenimento e tutela de crianças e jovens
e passem efetivamente a atuar como instituições responsáveis pela formação de
nossos cidadãos.
Devemos
abandonar de uma vez por todas esta postura ingênua e infantil de ação
controlada e manipulada por interesses políticos sindicais, que não são nenhum
pouco simpáticos à nossa sociedade. Devemos sim nos concentrarmos em esforços
de conscientização e parceira com a sociedade, só assim estaremos fortalecidos.
Contudo,
para isso, devemos superar um primeiro e provavelmente nosso maior obstáculo: a
falta de unidade e corporatividade profissional que caracteriza nossa classe.