terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

UMA IMAGEM, UMA FACA DE DOIS GUMES!

Tenho visto com certa frequência a postagem de uma imagem em uma rede social (Facebook), onde supostamente um professor dedica-se ao ensinamento de seus alunos em um local com chão de terra batida, um tronco de árvore caído que serve como assento aos alunos e uma "meia" parede - a única que ainda conserva-se em pé - usada como lousa onde a "educação" procura se fazer acontecer.

O cenário sugerido é o de extrema pobreza, não só pela estrutura quase inexistente do ambiente escolar, sobretudo pelas vestimentas sujas e deterioradas das crianças, e o aspecto sofrido que nos remete à carência alimentar, de saúde, e de todos os aspectos relevantes e necessários para que um ser humano possa viver com dignidade.

Em meio à esse cenário aparece em destaque a figura do professor, "imune" à todas as mazelas sociais e educacionais, exercendo seu "sacerdócio" entusiasticamente, com fôlego e determinação sobre-humanos, como um legítimo super-herói ou santo, desprovido de todo tipo de consciência política, cívil e profissional, a colocar seu coração e amor à profissão acima de tudo, com o intuito de promover prodígios, verdadeiros milagres.

Sem dúvida a imagem é linda, poética! Da mesma forma não nos restam dúvidas que devemos admirar este "soldado" da educação, contudo a mesma imagem que encanta também deturpa, pelo menos a nível do subconsciente, o sentido, a forma e a prática docente.

Não, nós professores não somos super-heróis. Amamos sim o que fazemos, porém não trabalhamos só por amor. Trabalhamos para sermos gratificados, e bem gratificados. Somos professores e não "quebra-galhos". Necessitamos de material pedagógico, estrutura escolar, capacitações e qualificação constantes para promovermos uma educação decente e de qualidade para nossos alunos.

Estamos invertendo os valores. Uma imagem como essa aliada à ignorância da população com relação ao estado real da educação levam à análises equivocadas e promovem oposição social aos movimentos da classe docente em prol de melhores salários, condições de trabalho e qualificação.

Sr. Médico, por que não atende seus pacientes em campo aberto? Deite-os no chão de terra batida e realize seus procedimentos cirúrgicos com facas e pinças de sobrancelhas.

Caro Padeiro, produza seus pães sem trigo, fermento ou água. Asse-os no chão por amor à sua profissão.

Ilustríssimos governantes, abram mão de seus gabinetes com ar condicionado, de seus carros de luxo e seus salários exorbitantes. Trabalhem nas ruas, façam uso do transporte público e recebam a mesma remuneração de um professor, tudo em nome do amor que têm pelo cargo que possuem.

Basta! Deixemos de viver em um mundo de fantasias. Vamos expandir nosso intelecto, abandonar a ignorância.

É mais do que óbvio que o exercício profissional deve ser realizado com base no amor, pois toda experiência humana deve valer-se deste sentimento para ser digna e efetiva. 

Entretanto, remuneração digna, valorização profissional e estrutura adequada não são privilégios que devem ser ofertados à uns poucos profissionais e profissões, e sim requisitos básicos que devem obrigatoriamente estar a serviço de todos.

Um comentário:

  1. Tudo isso faz parte desse processo de alienação, é doloroso perceber isso sem se indignar, no entanto, ainda creio que a melhor arma é mesmo a denúncia e a conscientização, o duro, é que infelizmente a desunião ainda permeia essa classe...mas é isso...desanimar, jamais...Excelente texto, Paarabéns !

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