Tenho acompanhado notícias
acerca da nova Lei de cotas que determina um percentual mínimo de vagas em
Instituições Federais de Nível Superior (até 2016 deverão ser 50%) a serem
destinadas à estudantes que cursaram integralmente o Ensino Médio em Escolas
Públicas. Ainda dentro destes percentuais, segundo a mesma Lei, deverão ocorrer
subdivisões com o intuito de contemplar e garantir o acesso àqueles alunos
oriundos de escolas públicas e com renda familiar de até 1,5 salários mínimo.
Será ainda considerado um percentual de vagas destinado àqueles estudantes
autodeclarados pretos, pardos e indígenas.
A determinação de leis e
ações que visam garantir e promover efetivamente o acesso e a permanência no
ensino superior de grupos socialmente discriminados revela-se como mais um importante
passo rumo à democratização da educação nacional que historicamente é
caracterizada por contemplar em seu passado à elite social.
Contudo, importante se faz a
análise do contexto promotor de tais ações para que possamos de forma
responsável e sem permitir que a ingenuidade nos envolva, compreender a
realidade dos fatos, e a partir daí assumir posturas e ações que possam exigir
dos governantes não só ações paliativas no setor educacional, mas sim,
estratégias, planos e projetos que visem à qualidade da Educação Nacional num
âmbito mais robusto.
Neste cenário, se por um
lado a criação da Lei de Cotas permite corrigir um déficit existente no
preenchimento de vagas por esses segmentos menos favorecidos e por assim dizer
“vitimados” por um sistema e uma sociedade que ainda privilegia sua elite, por
outro, descortina uma triste realidade ainda existente, no que tange a falta de
qualidade do ensino público nacional em seus níveis básico e fundamental.
Esta é para mim a maior
preocupação quanto a Educação Pública Nacional. No passado as estatísticas
apontavam para altos índices de analfabetismo e crianças fora das escolas. Com
isso, planos e ações foram traçados e executados para que estes números fossem
revertidos. Passamos mais de duas décadas nos dedicando a elevação da quantidade
de alunos presentes nas escolas públicas, porém o maior acesso e permanência por
parte destes alunos mais carentes e menos privilegiados socialmente não foram
suficientes para garantir o seu sucesso no prosseguimento dos estudos,
sobretudo à nível superior.
Com muita clareza isto pode
ser entendido, pois uma política educacional que privilegia números,
estatísticas, e quantidade em detrimento à qualidade de formação de seus
alunos, não pode formar efetivamente estudantes capacitados a galgar os degraus
da evolução e formação educacional.
Garantir o acesso destes
estudantes a educação de nível superior por meio da imposição da Lei de Cotas faz-se
necessário de forma aguda, imediata, apenas como forma de minimização das
perdas sociais que estamos colecionando à décadas.
Contudo, paralelamente a
estas ações, outras tantas deverão ser elaboradas e efetivamente executadas nos
níveis básico e fundamental do ensino público nacional. Investimentos em
estruturas, tecnologias, formação e atualização dos professores, bem como sua
melhor valorização. Diminuição do número de alunos por sala de aula, destinação
de parte da carga horária de trabalho do docente para o planejamento de suas
atividades, estudos e pesquisas, entre tantas outras ações, são alguns, entre
muitos exemplos de estratégias que primam pela qualidade do ensino público e
por consequência, pela melhor formação educacional dos alunos.
Se pretendemos realmente
melhorar a qualidade de vida de nossa população por meio da melhora na sua
formação educacional, devemos optar por projetos e ações sérios, de caráter
qualitativo, em todos os níveis educacionais.
Entretanto, se continuarmos
optando apenas por ações agudas e assistencialistas, que criam imposições sem
basear-se em pilares sólidos de qualidade, daqui a vinte anos estaremos nos
deparando com a criação de Leis de Cotas para a garantia de vagas de empregos e
em concursos de caráter público para estudantes oriundos de institutos públicos
de educação superior, como forma de garantir o exercício profissional daqueles
que apesar de terem cursado o nível superior, não tiveram como foco maior a
garantia da qualidade de seus estudos.
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